quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Povo de Lá - IV

E aqui continuo observando e aproveitando o contato com o homem e a natureza, que aqui mais do que em qualquer outro lugar é muito intenso, afinal estão cercados por uma chapada, por matas, morros, rios, riachos e lagoas. Cheguei com minha mania de não deixar a água da torneira aberta, de tomar banho rápido, de proteger os olhos do sol... Aqui essas coisas se tornam banais. Um lugar onde todo mundo tem no quintal manga, banana, coco verde, cana, uva, lichia, limão e galinhas, não dá pra dizer que não vivem bem com o meio em que nasceram. A água limpa da pia e do chuveiro vem do rio. Da mandioca se faz farinha, doces e bolos. Do milho a canjica, o cuscuz, o suco e tantos outros derivados. Como pensar em economizar aqui algo que é tão bom, tão infinito e bem aproveitado? Logo tratei de deixar os olhos a mostra e me deixar levar por tudo isso.




Assim como nadar no rio. As pedras, que são possíveis de ver cada vez que o sol brilha forte,  dói um pouco as solas dos pés e não muito raro, os joelhos também. Mas tomar banho numa água doce e ver o corpo secar logo após sair da água com certeza valem muito a pena. Não é a toa que todo mundo por aqui é neguinho.
As casas com as portas abertas é um entra e sai impensável pra quem vive em uma metrópole . Um passeio a casa de um cumpadi ou cumadi rende um passeio a vários outras casas que também estão com as portas abertas como se fosse um convite eterno, tanto para quem mora, quanto para quem vem visitar. "Filho de quem? Há quanto tempo não vem? Mas que moça grande! É a cara da família de fulano!" 
As coisas mais simples são grandes notícias e novidade. Contam casos rotineiros que pra gente que perdeu a graça em muita coisa, não consegue mais ver tanto motivo de empolgação. Mas tá sendo bem interessante voltar a olhar pra essas prosas, como dizem por aqui, vendo a mesma empolgação e conseguindo rir do mesmo motivo que eles. Ficar feliz porque o filho de outro fulano vai vir passar alguns dias por aqui depois de vários anos de trabalho duro em São Paulo, ou porque a filha mais nova resolveu casar numa cerimônia simples. Ou ainda porque um primo que eu nem tinha mais contato quer me mostrar as fotos bonitas que tirou de uma cachoeira aqui perto.

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