quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Povo de Lá - II

Quanto a família, logo de cara distribui os presentes e recebi em troca um especialmente do meu vaidoso avô. Um livro que retrata a história da região e que tem como tema principal o tal do Reisado e o Mestre Agripino (meu avô) como mentor. Uma comemoração aos três reis magos, que une o sagrado e o profano no mesmo momento. Cheguei bem na hora da comemoração e passei os dias ansiosa para a chegada de uma das festas mais importantes e populares daqui. Trouxe pandeiro pra e triângulo, e assim a festa ficou completa. Uma honra fazer parte de um conjunto com rabecas, violões, pandeiros e sanfonas. Gente que aprendeu a fazer música com o coração.

Os mais novos aqui só gostam de uma espécie de arrouxa e axé, com letras xexelentas e repetitivas, cheia de duplos sentidos. Até é engraçado. Mas por outro lado, sinal de que não gostam muito do que é típico daqui e que os pais e avôs lutam tanto pra manter. Coisa de adolescente, faz tudo ao contrário só pelo prazer de ser contrário. Só fico pensando se essas coisas que vim buscar aqui na terra dos meus pais e familiares não vai um dia se acabar por causa dessa ½ dúzia de pessoas. Espero que não.

Essas mesmas pessoas ficam na praça central da cidade que tem apenas uma ½ dúzia de ruas de terra e algumas de paralelepípedo. Sentam no quiosque da praça toda pavimentada e azulejada com pastilhas coloridas e sem nenhuma árvore, que foram todas arrancadas pra construção da praça, ouvindo um som alto ensurdecedor todo final de tarde. Na esperança de se divertir muito com isso, sei lá se divertem-se mesmo.
Minha avó e as duas tias que voltaram a morar aqui depois de anos viraram evangélicas, abandonaram a origem católica e a igreja do Bomfim, símbolo e figura central de toda boa cidadezinha. Meu avô a essa hora está lá começando a festa de reis em outra cidade próxima. Minha mãe continua brigando com meu pai pelos mesmos motivos de sempre, buscando ele de boteco em boteco, e eu continuo aqui, vendo fotos antigas, revivendo e descobrindo através da minha família um passado que eu deixei pra trás, totalmente sem consciência. Certamente criando alguma agora pra continuar com algumas outras certezas também.

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